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ARTIGO SPROWT | Joana de Almeida
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O Efeito Ripple: Mulheres, Bem-Estar e um Futuro Sustentável
O deserto floresce com resiliência. Tenho testemunhado isso em primeira mão, aqui no Médio Oriente, onde a inovação desabrocha em paisagens aparentemente estéreis. Tal como uma única semente pode transformar um deserto, também uma única ideia, uma única iniciativa, uma única mulher, pode transformar uma comunidade. Para mim, esta é a essência do desenvolvimento sustentável e inclusivo: cultivar o potencial, fomentar o crescimento e assegurar que todos tenham a oportunidade de prosperar.
A minha jornada, como farmacêutica portuguesa, estratega em saúde e agora Directora de Saúde no Conselho Empresarial Português em Abu Dhabi e Kuwait, tem sido um testemunho deste princípio. Desde os corredores da Big Pharma ao dinâmico cenário do Médio Oriente, tenho visto como o sector da saúde, quando abordado com um foco na inclusão e sustentabilidade, pode criar um efeito ripple, impactando não só o bem-estar individual, mas também o crescimento económico e o progresso social.
O Médio Oriente, uma região frequentemente estereotipada, revelou-se um surpreendente incubador desta filosofia. Aqui, em meio aos reluzentes arranha-céus e mercados vibrantes, uma revolução silenciosa está em curso. Os governos estão a investir fortemente em infraestruturas de saúde, a promover soluções digitais e a reconhecer o papel crucial das mulheres no impulso do desenvolvimento sustentável. Esta é uma região onde não só construí a minha carreira, mas também uma família, criando a minha filha de sete anos numa sociedade que valoriza tanto a tradição quanto o progresso. É a prova de que as mulheres podem prosperar em ambientes diversos, contribuindo com as suas competências e perspectivas únicas, enquanto assumem os seus papéis como mães, empreendedoras e líderes.
O meu trabalho com o Conselho Empresarial Português reforçou ainda mais a minha crença no poder da colaboração. Atuamos como uma ponte, conectando a inovação portuguesa aos mercados dinâmicos dos EAU e Kuwait. Facilitamos parcerias, promovemos a troca de conhecimento e defendemos práticas empresariais sustentáveis. Compreendemos que o verdadeiro progresso não é um jogo de soma zero. Trata-se de criar cenários win-win, onde as empresas prosperam enquanto contribuem para o bem-estar das comunidades que servem.
No campo da medtech, isto traduz-se em desenvolver e implementar soluções que não sejam apenas tecnologicamente avançadas, mas também acessíveis e económicas. Significa focar-se nos cuidados preventivos, capacitar as pessoas a tomar controlo da sua saúde e utilizar ferramentas digitais para alcançar até as populações mais remotas. Significa reconhecer o poder da medicina de precisão, adaptando tratamentos às necessidades individuais e aproveitando o potencial da IA e dos programas de genoma para revolucionar a prestação de cuidados de saúde.
Mas a tecnologia, por si só, não é suficiente. O desenvolvimento sustentável requer uma abordagem holística, que considere as dimensões sociais, económicas e ambientais da saúde. Exige que abordemos as causas profundas das disparidades em saúde, que capacitemos as comunidades marginalizadas e que garantamos a todos o acesso a cuidados de saúde de qualidade (democratização da longevidade), independentemente da sua origem ou circunstâncias.
É aqui que o conceito de desenvolvimento inclusivo se torna fundamental. Não se trata apenas de fornecer acesso a cuidados de saúde; trata-se de criar um sistema culturalmente sensível, responsivo ao género e equitativo. Trata-se de reconhecer as necessidades únicas de diferentes populações e adaptar as soluções em conformidade. Trata-se de capacitar as mulheres, que muitas vezes são as principais cuidadoras nas suas famílias, para se tornarem agentes de mudança nas suas comunidades.
Já presenciei o impacto desta abordagem. No meu trabalho com várias iniciativas de saúde, vi como capacitar as mulheres pode criar um efeito ripple, melhorando a saúde e o bem-estar de famílias inteiras. Quando as mulheres têm acesso à educação, cuidados de saúde e oportunidades económicas, é mais provável que invistam na saúde e educação dos seus filhos, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento.
Olhando para o futuro, sonho com um mundo onde o desenvolvimento sustentável e inclusivo não seja apenas um chavão, mas uma realidade. Um mundo onde todos tenham a oportunidade de alcançar o seu pleno potencial, independentemente do género, origem ou localização. Um mundo onde a tecnologia seja utilizada para capacitar, não para dividir. Um mundo onde reconhecemos a interconectividade de todas as coisas e trabalhamos juntos para criar um futuro mais justo e sustentável.
Talvez, um dia, esta visão se expanda para novos horizontes, criando pontes com a África Lusófona, onde laços linguísticos e culturais partilhados possam desbloquear um imenso potencial de colaboração e desenvolvimento sustentável. É um sonho, uma semente plantada no fértil solo da possibilidade, à espera do momento certo para florescer. Tal como as flores do deserto que aprendi a admirar, acredito que mesmo nos ambientes mais desafiadores, com o cuidado e a visão certos, tudo é possível.