ARTIGO SPROWT | Elena Son

Elena Son

Inteligência Emocional e o Papel de um Líder

No ambiente empresarial acelerado e interconectado de hoje, a liderança passou por uma transformação profunda. Cada vez mais, espera-se que os líderes modernos não apenas alcancem os objetivos organizacionais, mas também promovam uma cultura de trabalho que priorize a colaboração, a confiança e o bem-estar emocional. Esta mudança de paradigma trouxe a inteligência emocional (IE) para o centro da liderança eficaz, particularmente para as mulheres líderes, que muitas vezes possuem uma compreensão mais detalhada das dinâmicas interpessoais e da empatia. Assim, a inteligência emocional evoluiu de uma habilidade percebida como “suave” para uma competência essencial de liderança, que melhora a comunicação, a tomada de decisões e o sucesso organizacional.

A inteligência emocional, conforme definida pelo psicólogo Daniel Goleman, abrange a capacidade de reconhecer, compreender e gerir as próprias emoções, além de influenciar as emoções dos outros. Goleman (1995) identifica cinco componentes centrais da inteligência emocional que os líderes devem desenvolver para navegar nas complexidades das interações humanas e melhorar sua eficácia na liderança. Estes componentes—autoconsciência, autorregulação, motivação, empatia e habilidades sociais—são inter-relacionados e cruciais para fomentar um ambiente de trabalho produtivo e harmonioso.

A autoconsciência é um elemento essencial da inteligência emocional e um componente fundamental da liderança eficaz. Ela envolve a capacidade de reconhecer e compreender as próprias emoções e sua influência no comportamento e na tomada de decisões. Líderes autoconscientes compreendem suas forças, fraquezas e gatilhos emocionais, permitindo-lhes enfrentar os desafios com clareza e objetividade. Goleman (1995) afirma que a autoconsciência ajuda os líderes a se manterem atentos ao impacto dos seus estados emocionais no seu estilo de liderança e nas suas relações interpessoais. Esta capacidade introspectiva promove o pensamento reflexivo, permitindo aos líderes avaliar o impacto das suas ações nos outros e ajustar o seu comportamento conforme necessário.

Líderes que são autoconscientes estão melhor preparados para gerir o stress e o conflito, distinguindo entre reações emocionais e decisões racionais em situações desafiadoras. Por exemplo, um líder que reconhece uma tendência para a impaciência pode trabalhar de forma proativa para melhorar a compreensão e a comunicação eficaz. Esta capacidade não apenas melhora a tomada de decisões, mas também promove um ambiente de trabalho positivo, através da transparência e da melhoria contínua. Morrison (2018) ressalta que a autoconsciência é vital para a tomada de decisões éticas e para uma liderança responsável, reforçando o seu papel como um aspecto central da inteligência emocional.

Na liderança, a autoconsciência é particularmente importante para as mulheres, que muitas vezes enfrentam o desafio de equilibrar assertividade com acessibilidade em meio às expectativas sociais. Um forte senso de si permite que as mulheres líderes mantenham seus valores enquanto lidam com essas pressões. Eu priorizo resiliência, integridade e empatia na minha abordagem de liderança, acreditando que a adaptabilidade é essencial em um ambiente dinâmico como Moçambique. Tenho a sorte de fazer parte de uma organização que mantém seis valores fundamentais—Simplicidade, Colaboração, Respeito, Integridade, Desempenho e Transparência. Estes princípios estão alinhados com os meus valores e formam a base para a nossa conduta empresarial, orientando-me na resolução dos desafios de liderança com autenticidade, combinando força e cordialidade na tomada de decisões.

Líderes autoconscientes também são mais adaptáveis e abertos ao feedback, reconhecendo a importância de diferentes perspetivas na tomada de decisões. Aprimorei esta habilidade na Coca-Cola Sabco, onde a inclusão, o trabalho em equipa e a colaboração foram fundamentais para o nosso sucesso. Sob a liderança dinâmica do nosso Diretor Geral, que encorajava o diálogo aberto e valorizava todas as opiniões, desenvolvi uma abordagem de liderança que continua relevante no ambiente desafiador atual. Em regiões como Moçambique, onde as nuances culturais e os desafios económicos moldam a dinâmica do local de trabalho, a autoconsciência é vital para os líderes que buscam manter-se sensíveis às diversas necessidades e expectativas das suas equipas.

Enquanto a autoconsciência permite aos líderes compreenderem as suas emoções, a autorregulação refere-se à capacidade de gerir essas emoções, particularmente em situações de stress elevado ou conflito. Líderes que conseguem regular as suas emoções servem de exemplo positivo para as suas equipas, demonstrando que é possível manter a compostura e ser orientado para soluções mesmo em momentos desafiadores. Isto é especialmente crítico para as mulheres em posições de liderança, que muitas vezes enfrentam uma maior escrutínio em indústrias ou regiões dominadas por homens. O estereótipo de que as mulheres são “demasiado emocionais” realça a importância de equilibrar a expressão emocional com profissionalismo. A expressão emocional precisa ser adequadamente gerida, pois pode aumentar a credibilidade e a capacidade de se relacionar com os outros.

Considere um cenário em que uma líder está a supervisionar mudanças organizacionais significativas, como uma fusão ou reestruturação. Em situações de grande ansiedade como estas, uma líder emocionalmente inteligente reconhecerá as emoções dos outros enquanto fornece clareza e segurança. Ao fazer isso, ajuda todas as partes interessadas a navegar na transição de forma mais suave e eficaz.

A autorregulação baseia-se na autoconsciência e representa a capacidade de controlar ou redirecionar emoções e impulsos disruptivos, assim como adaptar-se a circunstâncias em mudança. Goleman (1998) explica que líderes emocionalmente inteligentes não permitem que suas emoções determinem o seu comportamento. Em vez disso, exercem contenção, garantindo que suas respostas sejam adequadas à situação. A autorregulação trata da gestão emocional; envolve canalizar emoções potencialmente negativas, como frustração ou raiva, para comportamentos mais construtivos. Esta capacidade de manter o equilíbrio emocional, mesmo sob pressão, é crítica em papéis de liderança. O CEO da nossa empresa-holding exemplifica como clareza e calma são ferramentas de liderança poderosas. A sua capacidade de regular as respostas, combinada com uma abordagem calma e orientada para soluções, ao longo dos anos, fomentou estabilidade e um sentido de segurança dentro das equipas. Este estilo de liderança influenciou muito a minha própria abordagem, enfatizando a importância da compostura e da autorregulação. Petrides et al. (2004) destacam que a autorregulação é essencial para uma gestão eficaz do stress e para manter a harmonia no local de trabalho.

No contexto da inteligência emocional, a motivação refere-se a um impulso intrínseco que vai além de recompensas externas como dinheiro ou status. Ela decorre de uma paixão genuína pelo trabalho e de um desejo de alcançar metas pessoais e organizacionais. Pessoalmente, adoro o meu trabalho, e essa paixão me motiva diariamente, fazendo com que o trabalho seja satisfatório, e não uma obrigação. Acredito fortemente que líderes altamente motivados estabelecem padrões elevados para si mesmos e para as suas equipas, impulsionados por um compromisso profundo com a missão da organização, em vez de ganhos a curto prazo.

De acordo com Goleman (2001), líderes motivados demonstram resiliência, um traço vital em Moçambique, mantendo o entusiasmo mesmo quando enfrentam desafios e contratempos. Muitas organizações enfrentaram dificuldades significativas durante a COVID-19, mas esses desafios também proporcionaram oportunidades para superar obstáculos e encontrar soluções criativas. Este impulso intrínseco não só melhora o seu desempenho, como também inspira aqueles ao seu redor. Líderes com uma forte motivação costumam possuir uma mentalidade visionária, utilizando a sua paixão para energizar as suas equipas e navegar pelas dificuldades.

Em Moçambique e em ambientes igualmente diversos, a empatia é especialmente importante, pois os líderes gerem equipas com diferentes origens culturais, sociais e económicas. Líderes empáticos dedicam tempo para entender essas diferenças e adaptar o seu estilo de comunicação de acordo com elas. Por exemplo, um líder pode considerar como as visões culturais sobre autoridade ou feedback influenciam as reações dos colaboradores a avaliações de desempenho. Ao navegar por essas diferenças com sensibilidade, garante-se que todos os membros da equipa se sintam ouvidos e valorizados. No entanto, é necessário equilibrar a empatia com a objetividade para tomar decisões justas. Um excesso de empatia pode prejudicar a responsabilização, enquanto a falta de empatia pode levar a perceções de distanciamento. Encontrar o equilíbrio certo é essencial.

As habilidades sociais são um componente vital da inteligência emocional, particularmente em Moçambique, onde a gestão eficaz das relações, a criação de redes e a comunicação são cruciais. Pessoalmente, considero as habilidades sociais essenciais na minha abordagem de liderança, pois me permitem navegar nas complexas dinâmicas interpessoais, resolver conflitos e inspirar a colaboração. Goleman (1995) enfatiza que as habilidades sociais vão além da sociabilidade; elas abrangem a capacidade de influenciar e persuadir os outros, liderando pelo exemplo. Além disso, líderes com habilidades sociais bem desenvolvidas gerem relações internas e externas, incluindo aquelas com subordinados diretos, partes interessadas e clientes. Eles reconhecem o valor de uma ampla rede e sabem aproveitá-la. Além disso, essas habilidades permitem que os líderes mediem disputas de forma eficaz, ouvindo todas as partes, abordando preocupações e facilitando soluções mutuamente benéficas. Northouse (2018) destaca a importância das habilidades sociais na liderança transformacional, pois capacitam os líderes a influenciar e inspirar outros para objetivos comuns.

Para mulheres em cargos de liderança, as habilidades sociais são particularmente cruciais, pois navegamos em ambientes predominantemente masculinos. Ao fomentar redes sólidas e aproveitar relacionamentos, as líderes mulheres podem criar oportunidades para colaboração e mentoria. Mulheres líderes frequentemente trazem perspetivas e abordagens únicas para a liderança, especialmente no que diz respeito à inteligência emocional.

À medida que as organizações navegam pelas complexidades do cenário empresarial moderno, acredito que a inteligência emocional continuará a desempenhar um papel fundamental na formação da eficácia da liderança. Mulheres líderes, com a sua maior consciência emocional e capacidade de promover a colaboração, estão bem posicionadas para liderar organizações através de desafios, ao mesmo tempo que promovem uma cultura de inclusão e resiliência.

Em conclusão, a inteligência emocional emergiu como uma competência crucial para a liderança eficaz no dinâmico ambiente empresarial atual. Líderes que cultivam autoconsciência, autorregulação, motivação, empatia e habilidades sociais estão melhor equipados para navegar nas complexidades das relações humanas e promover uma cultura de trabalho positiva. Para as mulheres líderes, a inteligência emocional aumenta a nossa capacidade de inspirar colaboração, promover inclusão e tomar decisões éticas. À medida que as organizações reconhecem cada vez mais o valor da inteligência emocional na liderança, devem priorizar o seu desenvolvimento entre os líderes atuais e aspirantes para garantir o sucesso a longo prazo num mundo em rápida mudança. Em última análise, a inteligência emocional não é apenas uma habilidade “suave”; é a base de uma liderança eficaz que impulsiona o desempenho organizacional, o envolvimento dos colaboradores e a transformação cultural.