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Artigo SPROWT | Carlos Osvaldo Mabutana
Do Simbolismo à Transformação: Porque a Representação, Por Si Só, Não É Suficiente
Adoramos celebrar a diversidade — especialmente quando ela é visível. Colocamos pessoas de cor nas fotografias, mulheres nos painéis, pessoas com deficiência nos folhetos. Destacamos a sua presença nas nossas organizações e usamos a sua inclusão como um símbolo de orgulho.
Mas aqui está a verdade incómoda: representação não é o mesmo que representar. E uma sem a outra não só é vazia — pode ser prejudicial.
Para Além das Aparências
Tendo trabalhado no sector privado, na cooperação para o desenvolvimento e em instituições diplomáticas, testemunhei em primeira mão como esta questão não se limita a um único domínio. Seja numa sala de reuniões corporativa, numa mesa de coordenação de doadores, ou numa sala de negociações multilaterais, o padrão repete-se: alguém é incluído apenas para preencher uma quota, não para mudar a conversa.
Essas instituições — e digo isto como alguém que trabalhou dentro delas — muitas vezes confundem presença com poder. Querem-te na sala, mas não querem que a sala mude. Podes ser incluído, desde que não desafies demasiado. Podes falar, desde que não digas o que incomoda.
Neste modelo, a representação torna-se decorativa — simbólica, na melhor das hipóteses; silenciadora, na pior.
A Ilusão do Progresso
Esta ilusão de progresso é sedutora. Permite às instituições sentirem-se modernas, inclusivas e visionárias. Mas as estruturas profundas de tomada de decisão, definição de agendas e alocação de recursos permanecem intocadas.
Acabamos com salas que parecem diferentes, mas pensam da mesma forma.
E isso é um problema — porque a verdadeira inclusão não é sobre aparência, é sobre agência. É sobre mudar as dinâmicas de poder para que aqueles que historicamente foram excluídos não só estejam presentes, mas também sejam ouvidos, respeitados e seguidos. Não são apenas visíveis — são quem define a visão.
O Custo do Silêncio
O custo de não ir além da representação é real. Pessoas talentosas afastam-se de sistemas que as esgotam. Comunidades perdem a confiança em instituições que exibem diversidade, mas mantêm a exclusão. E talvez mais tragicamente, perdemos a sabedoria, a inovação e as soluções que só surgem quando o poder é partilhado, não acumulado.
Já vi jovens mulheres brilhantes em startups tecnológicas cujas ideias foram ignoradas até serem repetidas por um homem. Já vi profissionais africanos em ONGs internacionais constantemente reduzidos a “fornecedores de contexto local”, enquanto as decisões estratégicas eram tomadas em capitais europeias. Já vi mulheres negras em espaços diplomáticos elogiadas pela sua “presença”, enquanto eram excluídas de discussões políticas significativas.
Em todos esses casos, a representação existia, mas o direito de representar — de influenciar, definir a direcção e liderar — não.
Desmantelar o Portão
O que precisamos não é de mais rostos em lugares de destaque apenas por visibilidade. Precisamos desmantelar os portões, não apenas diversificar os porteiros. Isso significa repensar como definimos mérito, quem segura o microfone e o que significa sucesso.
A verdadeira inclusão não é convidar alguém para dançar a mesma música de sempre.
É deixar que essa pessoa mude a música.
Do Conforto ao Comprometimento
Para as instituições verdadeiramente comprometidas com a equidade, o próximo passo não é apenas contratar mais pessoal diverso ou organizar workshops de inclusão. É estar disposto a ceder controlo, redistribuir recursos e reinventar a liderança.
Significa fazer perguntas desconfortáveis:
- Quem define a agenda nas nossas salas de decisão e organizações?
- Que conhecimento valorizamos — e qual ignoramos?
- Estamos a construir sistemas que permitem às pessoas trazer o seu “eu” completo — ou apenas as partes que se encaixam?
Até respondermos honestamente a estas perguntas, continuaremos presos num ciclo de mudança superficial e oportunidades perdidas.
Reflexão Final
A representação é um ponto de partida — não um destino. É a porta, não a casa. E enquanto continuarmos a confundir uma com a outra, continuaremos a construir instituições que parecem inclusivas, mas falham em ser transformadoras.
Vamos parar de preencher caixas. Vamos começar a partilhar a caneta que escreve as regras.