Artigo SPROWT | Denise Fernandes

FOTO DENISE FERNANDES

Uma Jornada de Resiliência, Propósito e Empoderamento

O meu nome é Denise Fernandes e nasci em Moçambique, um país de rica cultura e história profunda. Aos dez anos, mudei-me para Portugal — uma transição que me apresentou novas línguas, costumes e formas de vida. A minha infância foi marcada tanto pela maravilha como pela resiliência. Portugal tornou-se o lugar onde cresci, onde aprendi a adaptar-me e a perseverar em ambientes desconhecidos. Mas, mesmo ao estabelecer-me ali, sabia que a minha jornada estava longe de terminar.

Aos 21 anos, cruzei o Atlântico para iniciar um novo capítulo nos Estados Unidos. Cheguei como estudante internacional — esperançosa, ambiciosa e pronta para abraçar as oportunidades. Deixei para trás a minha família, a minha língua e tudo o que me era familiar para perseguir a educação e o crescimento. Vim em busca de conhecimento, mas o que encontrei foi um mundo que me iria pôr à prova de formas que nunca imaginei.

Pouco depois de chegar aos EUA, entrei numa relação que se tornou num capítulo doloroso da minha vida. Tornei-me uma sobrevivente de violência doméstica. O abuso nunca é apenas físico — isola, diminui e, silenciosamente, quebra o espírito. Como mulher imigrante com recursos limitados, senti-me isolada. Mas algo dentro de mim — algo profundamente enraizado na minha herança moçambicana e na minha educação portuguesa — recusou-se a ser silenciado.

Sair desse casamento foi a decisão mais difícil que tomei, mas também a mais libertadora. Escolhi recuperar a minha vida. Tornei-me não apenas uma sobrevivente, mas uma mulher determinada a reescrever a sua história — e a ajudar outras a fazerem o mesmo.

A minha cura começou através da educação e do serviço aos outros. Dediquei-me a ajudar outras pessoas, especialmente mulheres e jovens que enfrentam barreiras sistémicas. Co-fundei uma organização sem fins lucrativos focada na educação. A nossa missão é simples, mas poderosa: toda a criança, independentemente da sua origem, merece acesso a oportunidades.

Este trabalho levou-me à honra de me tornar mentora na Fundação Obama. Ser reconhecida como agente de mudança entre uma comunidade global de líderes fez-me lembrar que o nosso passado não nos define — a nossa coragem sim.

Como membro do NJPAC, vi em primeira mão como as artes podem transformar comunidades. A música, a performance e a arte de contar histórias aproximam as pessoas e oferecem cura. Através desta plataforma, ajudei a amplificar vozes que merecem ser ouvidas.

Também colaborei com a Iniciativa da Casa Branca para a Promoção da Equidade na Educação, lutando por políticas que reflitam as necessidades dos estudantes mais desfavorecidos.

Nos últimos três anos, servi com orgulho como Presidente do Women Economic Forum de Nova Jérsia. Neste papel, conectei-me com mulheres pioneiras de todo o mundo — líderes que, como eu, transformaram a adversidade em advocacia. Organizámos conferências.

A minha jornada — de Moçambique a Portugal e depois para os Estados Unidos — não foi fácil. Mas cada capítulo moldou quem sou. Aprendi que a força nem sempre se manifesta em altos gritos. Às vezes, é a decisão silenciosa de nos levantarmos e tentarmos novamente.

Hoje, apresento-me como sobrevivente, educadora, defensora de causas e líder. Uso a minha voz para elevar os outros. Crio plataformas para que a próxima geração de raparigas de Moçambique, Portugal, América ou de qualquer parte do mundo saiba que também pode erguer-se.

Não somos definidos pelo que suportámos, mas pela forma como respondemos. Eu escolho responder com liderança, amor e propósito.

Esta é a minha história — e é apenas o início.