Artigo SPROWT | Shakeel Neves

Tornando o Propósito Visível: Como nos Conectamos, Criamos e Inspiramos na SPROWT

Num mundo que se move rapidamente e fala com força, ser visto tornou-se fácil. O que é mais difícil e, ao mesmo tempo, essencial, é ser visto pelas razões certas, pelas pessoas certas e no contexto certo. Isto é especialmente verdade para o trabalho movido por uma missão. A visibilidade, neste caso, não é estar em evidência por evidência. É estar firmemente no propósito. Quando feita com intenção, torna‑se numa força que pode mudar a forma como as pessoas veem a si mesmas, as suas comunidades e as possibilidades que têm pela frente.

Este trabalho é profundamente pessoal para mim. Nasci e cresci em Moçambique, numa família que vivia no ponto de encontro de duas direcções culturais. Por um lado, havia uma forte orientação para o Ocidente. Educação, ambição, estrutura e a crença no potencial individual moldaram a minha passagem pela escola e a minha compreensão do sucesso. Por outro lado, estava imerso em valores mais associados ao Oriente. Autorreflexão, humildade, equilíbrio interior e um forte senso de pertença a algo maior que nós mesmos fundamentavam a forma como me relacionava com os outros e como via o meu lugar no mundo. Essa mistura moldou o meu pensamento, a minha liderança e as minhas decisões. Talvez seja por isso que me sinto atraído por trabalhos que vivem entre pessoas e ideias, entre comunicação e cuidado, entre visão e comunidade.

Quando falamos de visibilidade no nosso trabalho, não estamos a perseguir atenção por si só. O nosso foco é como nos apresentamos e como as nossas histórias são levadas adiante. As pessoas começam a interessar-se quando algo lhes parece próximo da sua vida. O nosso trabalho precisa de fazer mais que informar. Precisa de conectar. O objectivo não é sobrecarregar com estatísticas ou prometer mudanças que não podemos concretizar. É convidar a entrar em histórias reais que já estão a acontecer, histórias enraizadas na verdade e que falem de algo partilhado.

Conteúdos criativos desempenham um papel poderoso nesse processo. Quando elaborados com cuidado e clareza emocional, ultrapassam a explicação e atingem a conexão. Têm a capacidade de desacelerar, de capturar atenção num mundo que tenta apressar-nos. Numa “feed” cheia de ruído, uma única história funda na verdade pode fazer alguém parar, reflectir ou agir. Isso não é apenas comunicação. É presença.

Contar histórias forma a base do nosso trabalho. Histórias permitem avançar do abstracto ao pessoal, de conceitos a pessoas. Na nossa acção, partilhamos a vida de mulheres que estão a reconstruir comunidades por meio de pequenos negócios, de jovens que usam a criatividade para mudar a forma como pensamos sobre género, poder e identidade, e de iniciativas que, embora pequenas, são profundamente transformadoras. Estas não são apenas histórias do que está a ser feito. São sobre as pessoas por detrás, sobre o que as motiva e sobre o futuro que começa a emergir através das suas escolhas.

Essa narrativa não pode ser fabricada. Tem de nascer da honestidade. Perguntamo-nos sempre que tipo de mensagem continuará verdadeira daqui a um ano ou dez. Isso significa assumir a alegria e a dificuldade, a contradição e a resiliência pelas mesmas razões. Nessa honestidade, as pessoas encontram identificação. Veem algo que reflicte não apenas uma causa, mas uma experiência humana partilhada.

O contexto em que actuamos acrescenta urgência a este trabalho. Em Moçambique, e noutros sítios do continente, os jovens enfrentam realidades difíceis e, por vezes, contraditórias. Por um lado, falta acesso. Muitos crescem sem educação de qualidade ou oportunidades. Por outro, os que têm acesso à escola, tecnologia ou recursos estão frequentemente sobrecarregados, desmotivados ou consumidos por pressão e distrações. Há uma desconexão entre acesso e sentido, entre privilégio e propósito. O resultado é que os que não têm oportunidades são moldados por um país ainda incerto do que pretende ser. Já os que têm voz e influência não sabem como ou onde usá-la.

Uma das lacunas mais difíceis é a ausência de modelos visíveis, honestos e acessíveis. Em muitos países, especialmente os menos desenvolvidos, os jovens não crescem com mentores presentes e reais. O que precisam não é de perfeição. Precisam de presença. Precisam de exemplos de pessoas que tentam, falham, aprendem e continuam. Países como o Ruanda demonstraram como a liderança intencional e responsabilidade nacional podem gerar estabilidade a longo prazo e confiança renovada. De acordo com a União Interparlamentar e a Intelpoint, as mulheres ocupam 63,8% dos lugares na Câmara Baixa do parlamento do Ruanda (a mais alta representação feminina no mundo). O Senegal, por sua vez, vive um ambiente criativo e cívico dinâmico: mais de 60% da sua população com menos de 30 anos (que é cerca de 70% do total) participa activamente na inovação e cena cultural impulsionada pelos jovens. Estes exemplos relembram-nos que a narrativa da África não é de limitação, mas de potencial a ser desbloqueado através de visão clara e acção colectiva.

A mentoria é uma parte fundamental dessa jornada. Eu não me considero um mentor. Tenho vinte e sete anos, ainda estou a aprender, a enfrentar desafios e a formar as minhas próprias definições de sucesso e serviço. Ao mesmo tempo, sei a importância de ter alguém que acredita em ti, que te desafia ou simplesmente te escuta quando é necessário. Sei disso porque já precisei. Já vivi isso. E isso moldou a forma como encaro o trabalho que faço hoje. Mentoria nem sempre significa hierarquia. Muitas vezes, significa responsabilidade. A geração que estamos a tentar apoiar não vem depois de nós. É a nossa geração. São os nossos amigos, os nossos colegas, as pessoas com quem estamos a construir. É por isso que a mentoria importa. Não como um título, mas como um ato partilhado de cuidado e compromisso.

Esta ideia também orienta a nossa visão sobre doação e impacto. A filantropia deixou de ser apenas instituições grandes ou doações anuais. As pessoas querem viver os seus valores, não apenas dizê-los. Essa transformação cria espaço para colaborações entre consumidores, criativos e comunidades. Quando promovemos negócios éticos, destacamos artesãos locais ou desenhamos campanhas centradas no valor social, não estamos apenas a aumentar a notoriedade. Estamos a ajudar a construir uma nova cultura de partilha, uma cultura honesta, presente e inclusiva.

Design e emoção estão também profundamente ligados. A forma como algo soa, o ritmo de uma campanha, as cores e texturas nas narrativas visuais contribuem para o modo como a pessoa se sente. A conexão sensorial constrói memória. Muitas vezes, é isso que permite alguém lembrar o que viu, sentiu e o que aquilo significou para si. Seja o compasso de tambores familiares, o calor visual das peças feitas à mão ou a presença de pessoas reais nas imagens, procuramos criar não apenas conteúdo, mas experiência. Esses momentos ficam connosco muito depois de passarmos o olhar.

O que me mantém firme em tudo isto é a crença de que criatividade e estrutura não se excluem mutuamente. Estratégia não precisa ser fria. Beleza não precisa de falta de clareza. Podemos criar trabalho que emocione e também guie. Esse equilíbrio é onde se constrói confiança. Esse equilíbrio é onde a verdadeira mudança começa.

É isso que me guia todos os dias. A crença de que quando falamos com cuidado e agimos com clareza, as pessoas sentem. Quando o propósito não é apenas dito, mas mostrado; não apenas escrito, mas vivido, o trabalho deixa de ser distante e torna-se real. A visibilidade deixa de ser apenas táctica. Torna-se uma forma de mostrar às pessoas que importam, que são vistas e que também fazem parte de algo que lhes pertence.