Os cidadãos inadaptados e outros inconformismos
Artigos SPROWT | Osório Lucas
Os cidadãos inadaptados e outros inconformismos
Era uma vez uma empresa de inconformados, jovens e atrevidos, que tinham a mania que queriam mudar a sociedade e torná-la um bocadinho mais inclusiva. Tudo começou na CERCI, um centro onde conviviam “cidadãos inadaptados” – cuja única inaptidão era o facto de a sociedade não se querer adaptar a eles! – e onde estes inconformados aprenderam muito sobre inclusão.
“Como fazer para contribuir que a sociedade compreenda que estes cidadãos inaptados são afinal iguais a qualquer um de nós, para não dizer mais especiais, porque conseguem fazer brilhar qualquer lugar onde entram e tornar melhores as pessoas com quem convivem?”, perguntou um dos jovens atrevidos.
Após algumas consultas, chegaram à seguinte conclusão: “Temos de ser nós os primeiros a adaptar-nos, antes de pedirmos à sociedade que o faça! Vamos criar um projecto de emprego inclusivo, e mostrar a todos como somos todos iguais!”
Mas por onde se começava? Os inconformados arregaçaram as mangas e começaram logo a trabalhar: falaram muito sobre o que era inclusão, chamaram os especialistas no assunto (desde o Fórum das Associações Moçambicanas para a Deficiência, até as Associações dos Surdos e dos Cegos e Amblíopes, psiquiatras e psicólogos especializados em necessidades especiais), construíram rampas, adaptaram casas-de-banho, tiveram aulas de linguagem gestual e iniciaram dentro da empresa grandes conversas sobre inclusão. Toda a gente da empresa devia estar preparado para receber de braços abertos os cidadãos com deficiência – desde aqueles que eram chamados de “inadaptados”, aos que tinham algum tipo de deficiência sensorial ou física.
E foi assim que, em Abril de 2019, os inconformados incluíram como seus colegas 15 cidadãos muitos especiais. A maioria nunca tinha trabalhado, só sabiam fazer as coisas com muito amor e muito primor. Incluíram-se e adaptaram-se mais rapidamente que muitos outros cidadãos considerados “normais”. Transformaram uma empresa e todos os trabalhadores, que passaram a levar diariamente para casa e para a sua comunidade lições de inclusão.
Os inconformados continuam sem se conformar porque é preciso fazer muito mais. Por isso continuam a convidar outras empresas a juntar-se a eles neste bonito caminho da inclusão.