ARTIGO SPROWT | Manuel Soares

Manuel Soares

Liderança, Inteligência Emocional e Comunicação: Uma Jornada Pessoal de um CEO em tempos de Crise

A Tempestade Inesperada
Nunca esquecerei aquela tarde de sexta-feira. O sol mal se havia posto na cidade de Maputo quando recebi a chamada que mudaria o rumo da minha carreira e, de certa forma, da minha vida. O nosso banco, uma instituição respeitada e com décadas de história em Moçambique, estava prestes a sofrer uma intervenção do regulador.
As notícias espalharam-se como fogo. Na segunda-feira, filas formaram-se à porta das nossas agências, os telefones não paravam de tocar, e o pânico era palpável nos olhos dos nossos colaboradores. Como recém-nomeado CEO, senti o peso do mundo sobre os meus ombros. Foi nesse momento que compreendi verdadeiramente o poder da inteligência emocional e da comunicação estratégica na liderança. Não bastava ter um plano; era crucial transmitir confiança, empatia e determinação a uma equipa à beira do colapso emocional.
Nos dias que se seguiram, pratiquei a autoconsciência como nunca. Cada manhã, antes de entrar no escritório, fazia uma pausa para avaliar o meu estado emocional. Reconhecia a minha própria ansiedade e medo, mas também a minha determinação em liderar a equipa através deste desafio.

Poder da Inteligência Emocional em tempos de Crise
Tive de desenvolver a Capacidade de reconhecer e compreender as minhas emoções, forças e fraquezas. Fortalecer a autoconsciência permitiu-me ser o farol no meio da tempestade, ajudando cada membro da equipa a crescer e desenvolver-se.
A auto-regulação tornou-se a minha aliada mais valiosa. Quando um cliente irado gritava com um dos nossos caixas, ou quando um colega sucumbia ao stress, respirava fundo e mantinha a calma. A minha serenidade tornou-se uma inspiração para os outros.
A motivação intrínseca foi o que me manteve de pé durante as longas noites de trabalho e reuniões intermináveis com o regulador. Não era apenas sobre salvar o banco; tratava-se de proteger os sonhos e o futuro de milhares de moçambicanos que confiavam em nós.
A empatia permitiu-me conectar genuinamente com cada membro da equipa. Ouvir as suas preocupações, compreender os seus medos e reconhecer os seus esforços criou um vínculo de confiança que se provou inestimável.

As habilidades sociais foram cruciais para navegar as complexas negociações com o regulador, tranquilizar os grandes clientes corporativos e manter a coesão interna da equipa.

A importância da Comunicação Estratégica na Reconstrução da Confiança
À medida que trabalhávamos incansavelmente para estabilizar o banco, percebi que cada palavra, cada gesto, cada e-mail tinha o poder de construir ou destruir a confiança. A comunicação estratégica tornou-se a nossa arma secreta na batalha pela sobrevivência e recuperação.
Implementámos um plano de comunicação em três frentes:

  1. Interna: Reuniões diárias de equipa, boletins informativos transparentes e um canal aberto de comunicação com a liderança mantinham todos alinhados e motivados.
  2. Clientes: Mensagens claras e honestas sobre a situação do banco, actualizações regulares sobre os progressos e um compromisso inabalável com a protecção dos seus interesses.
  3. Público em Geral: Uma campanha de relações públicas cuidadosamente orquestrada para reconstruir a imagem do banco, destacando a nossa resiliência e compromisso com Moçambique.

A chave era equilibrar a transparência com o optimismo, a honestidade com a esperança. Cada comunicação era meticulosamente preparada para inspirar confiança sem fazer promessas irrealistas.

A Transformação Digital: Um novo capítulo
Meses de trabalho árduo começaram a dar frutos. Gradualmente, a confiança do mercado foi restaurada. Foi então que percebemos: não bastava voltar ao “normal”. Era hora de reinventar o banco para o futuro.
A decisão de mudar o nosso core bancário e embarcar numa jornada de transformação digital foi tão assustadora quanto emocionante. Mais uma vez, a inteligência emocional e a comunicação estratégica provaram-se indispensáveis.
Foi necessário ultrapassar desafios e definir estratégias:

  1. Resistência à Mudança: Utilizei a empatia para compreender os medos dos colaboradores face à digitalização. Sessões de escuta activa e workshops de capacitação ajudaram a aliviar ansiedades.
  2. Complexidade Técnica: Traduziu-se conceitos técnicos complexos em linguagem acessível, usando metáforas e exemplos práticos para criar entusiasmo em torno das novas possibilidades.
  3. Pressão do Mercado: Comuniquei clara e frequentemente a nossa visão de nos tornarmos a melhor experiência da banca moçambicana, à qual todos sentem orgulho em pertencer. Ser o banco mais ágil e inovador de Moçambique, inspirando desta forma a equipa a abraçar a mudança com entusiasmo.
  4. Equilibrar Tradição e Inovação: Criei narrativas que honravam o nosso passado enquanto pintavam um futuro empolgante, ajudando os stakeholders a ver a continuidade na mudança.

Lições Aprendidas e O Caminho à Frente
Esta jornada ensinou-me que a verdadeira liderança transcende títulos e hierarquias. É sobre inspirar, capacitar e elevar aqueles ao nosso redor, especialmente em tempos de incerteza e mudança.
A inteligência emocional permitiu-me navegar as águas turbulentas da crise com empatia e resiliência. A comunicação estratégica foi o veículo através do qual transformámos o medo em esperança, a incerteza em oportunidade.
Hoje, olho para o nosso banco com um misto de orgulho e humildade. Orgulho pelo que alcançámos juntos, e humildade ao reconhecer que a nossa jornada está longe de terminar. O mundo digital apresenta novos desafios e oportunidades a cada dia.
Mas agora sei que, com uma equipa unida, uma liderança emocionalmente inteligente e uma comunicação clara e inspiradora, não há desafio que não possamos superar. Estamos a escrever não apenas o futuro do nosso banco, mas contribuindo para o progresso económico e social de Moçambique.
E nesta nova era de banco digital, ágil e centrado no cliente, continuaremos a liderar não através do medo ou da autoridade, mas através da inspiração, da empatia e da visão compartilhada de um futuro melhor para todos.

1 Qualquer Semelhança com a realidade é mera coincidência

Conclusão da estória:
Num mundo onde a única constante é a mudança, o verdadeiro líder não é aquele que tem todas as respostas, mas aquele que sabe fazer as perguntas certas. É o catalisador que, através da inteligência emocional e da comunicação estratégica, liberta o potencial latente em cada indivíduo e na equipa como um todo. Este líder compreende que cada interacção é uma oportunidade para inspirar, cada desafio uma chance de crescer, e cada conquista um momento para celebrar colectivamente. Ao dominar a arte subtil de sentir e comunicar, o líder não apenas guia a sua equipa através das tempestades do presente, mas também a prepara para prosperar nas incertezas do futuro. A liderança verdadeiramente transformadora não se trata apenas de alcançar resultados, mas de criar um legado duradouro. É sobre cultivar um ambiente onde a inovação floresce, onde os indivíduos se sentem valorizados e capacitados, e onde o sucesso é medido não apenas em números, mas no impacto positivo que se tem nas vidas dos outros e no mundo ao redor. Ao abraçar o poder da inteligência emocional e da comunicação estratégica, os líderes de hoje não estão apenas a gerir equipas; estão a moldar o futuro, uma conversa de cada vez, uma decisão de cada vez, um momento de cada vez. E neste processo, não estão apenas a liderar organizações; estão a inspirar uma nova geração de líderes.