ARTIGO SPROWT | Miguel Silva

Miguel Silva

Inteligência Emocional na Liderança: Como Não Perder a Calma no Trânsito (e Outras Lições)

Ao preparar-me para escrever sobre o incrível poder da inteligência emocional e a importância da comunicação, dei por mim a reflectir sobre o meu próprio percurso e as lições valiosas que aprendi, especialmente no meu actual papel de liderança. Se há uma lição a retirar da minha experiência, é que a liderança exige autenticidade, envolvimento pessoal e significado!

A liderança, em qualquer organização, é muito mais do que apenas gerir recursos ou obter resultados – trata-se de compreender as pessoas e gerir as emoções dos outros… mas também de nos conhecermos a nós próprios, às nossas próprias emoções e de estarmos abertos a elas.

Sejamos francos: ser líder não é para os fracos de coração. É uma experiência enriquecedora, mas repleta de desafios quotidianos. Estes, se forem bem geridos, contribuirão significativamente para o desenvolvimento pessoal de todos ao seu redor. Se conseguir passar a hora de ponta no trânsito sem perder a calma, já está a meio caminho de dominar a inteligência emocional. No entanto, a inteligência emocional na liderança não se limita a manter a calma quando alguém lhe corta a frente sem fazer sinal de pisca sinalizando a marcha. Trata-se de navegar entre as voltas e reviravoltas das relações no trabalho com a mesma delicadeza de que precisa para lidar com o trânsito da cidade – paciente, observador, comunicativo e com a quantidade certa de buzinadela (i.e. assertividade). No que se trata de inteligência emocional, lidar com o trânsito, mesmo em Maputo, passa a ser menos sobre o controlo da situação externa e mais sobre a gestão das suas respostas internas.

Gerir as Emoções (Ou, Como Evitar Tornar-se “Aquele” Chefe)

A cultura moçambicana é calorosa, sociável e cheia de emoções. Eles podem ser expressivos, quer se trate de uma gargalhada calorosa ou de um suspiro frustrado. No entanto, como líder, aprender a gerir estas emoções é fundamental. Ninguém quer ser o chefe que tem um colapso por causa de um relatório em atraso, como se fosse o fim do mundo, ou que lidera uma equipe desmotivada. Pense na inteligência emocional como a arte de “ler a sala” – quer seja na reunião de equipe ou no seu escritório durante uma tarde de sexta-feira. Se perceber que um dos membros da sua equipe tem a mesma expressão de alguém que acabou de descobrir que o preço da viagem de chapa (um meio de transporte muito comum em Moçambique, são carrinhas com percursos definidos e um número indeterminado de passageiros) voltou a duplicar, talvez seja altura de uma conversa motivadora, não de uma reprimenda. Antes de reagir a uma situação, pergunte a si próprio: “Eu reagiria da mesma forma se estivesse preso no trânsito de Maputo neste momento?” Se a resposta for “Não, porque estaria a passar-me!”, então está na altura de respirar fundo, sorrir e abordar as coisas de forma diferente.

Auto-regulação (Ou, Como Manter a Calma Quando Todos os Outros Estão a Perder a Cabeça)

Se alguma vez tentou resolver um problema num serviço burocrático, sabe como é difícil manter a calma. Como líder, controlar as suas emoções pode muitas vezes parecer como navegar numa longa fila interminável (já esteve na fila do multibanco em dia de receber o salário?). A paciência, caro leitor, é fundamental. A auto-regulação é a capacidade de lidar com a vontade de explodir quando as coisas não correm como planeado. Trata-se de manter a compostura, mesmo quando alguém chega a uma reunião com 30 minutos de atraso e diz “Desculpa, chefe, muito trânsito na cidade“. Perder a calma não resolve o problema – apenas transforma um pequeno soluço numa enorme dor de cabeça. Da próxima vez que sentir a pressão a aumentar como uma tempestade de verão sobre Inhambane, respire fundo, pense nas águas calmas do Oceano Índico e lide com a situação com graça e controlo – isto estabelece o tom para si e para os outros, assegurando que todos permanecem calmos e compostos num ambiente propício a discussões frutuosas, mesmo durante conversas desafiantes.

Empatia (Ou, O Superpoder Secreto para Conquistar Corações (e Evitar Dramas))

Sejamos realistas – todos enfrentam desafios, desde o vendedor de rua preocupado com os vendavais (ventos muito fortes) que, vezes sem conta e sem autorização, continuam a levar o seu stock e o seu sustento do mês, até ao membro da sua equipa inundado de stress com o cumprimento de um prazo apertado. A empatia permite-lhe estabelecer uma ligação com a sua equipa a um nível humano. Uma voz bem colocada e magnética pode funcionar muito bem para um vendedor de peixe no mercado de peixe em Maputo, mas muito raramente, ou nunca, num ambiente de trabalho. Tente perceber o que se está a passar nos bastidores. Por vezes, as conversas mais produtivas têm lugar durante um pão com chá, enquanto escuta realmente e fala com cuidado. A empatia não significa ser brando ou permissivo, ou a colocar os padrões de lado. Significa compreender de onde vêm as suas pessoas e ajudá-las a estar à altura da ocasião. Tenha abordagens ponderadas às questões, uma conversa transparente e honesta, seja comedido nas suas respostas e mantenha a calma. Ganhe pontos de bónus se conseguir até contar uma piada. Afinal de contas, se praticarmos o ubuntu e a nossa humanidade partilhada, podemos encorajar mais empatia e diálogos abertos.

Comunicação (Quando as Emoções São Mais Quentes do que Piri-Piri)

Seja sincero – as emoções no trabalho podem surgir de forma tão imprevisível como um corte de electricidade a meio de um dia atarefado: inconveniente, imprevisível, mas faz totalmente parte da vida. E adivinhe? Tal como não podemos controlar quando as luzes se apagam, também não podemos controlar quando alguém vai ficar frustrado com o seu salário ou sentir-se desvalorizado depois de ficar até tarde a fechar aqueles relatórios intermináveis. As coisas estão a aquecer mais depressa do que um frango marinado em piri-piri e é preciso arrefecê-las. Mas é aqui que a inteligência emocional entra em acção como um super-herói – só que, em vez de uma capa, está envolta em… competências de comunicação virtuosas. A comunicação – tanto verbal como não-verbal – é a chave para expressar a inteligência emocional. É um processo de criação de significado partilhado. É importante compreender que as palavras que escolhe, o seu tom e até a sua linguagem corporal podem afectar profundamente a forma como as mensagens são recebidas. Comunique eficazmente – é uma via de dois sentidos. Se for o único a falar, é como conduzir no lado errado da estrada.

Por exemplo, quando a Nova Zelândia enfrentou os trágicos tiroteios na mesquita de Christchurch em 2019, a primeira-ministra Jacinda Ardern conduziu a nação através do choque, do medo e do luto com uma comunicação empática e uma resposta calma à tragédia. Visitou a comunidade muçulmana, usou um hijab em sinal de solidariedade e comunicou a sua profunda tristeza, ao mesmo tempo que transmitiu uma sensação de estabilidade e força. Através das suas acções e palavras, transmitiu unidade e resiliência, ajudando a Nova Zelândia a atravessar um período incrivelmente difícil.

Competências Sociais (Ou, Como Encantar uma Sala Como Se Estivesse num Casamento Moçambicano)

Os casamentos moçambicanos são uma verdadeira lição de inteligência emocional. Estão lá todos, desde o amigo distante que se convidou a si próprio, ao primo que não pára de dançar, ao tio em terceiro grau que insiste em fazer um discurso (e ele nem sequer faz parte da cerimónia). A capacidade de navegar nestas dinâmicas sociais com um sorriso, um aperto de mão e uma piada oportuna é a essência da inteligência emocional. Construir relações, resolver conflitos e motivar a sua equipa tem tudo a ver com a utilização dessas competências sociais. A inteligência emocional não tem a ver com ser a pessoa mais carismática da sala. Trata-se de ser a pessoa que reúne as pessoas, faz com que todos se sintam ouvidos e cria um espaço onde até o membro mais calado da equipa se sente suficientemente confiante para partilhar uma ideia. Pense em si como o mestre de cerimónias de um casamento – a sua função é manter a energia alta e as pessoas felizes!

Motivação (Ou, Não há Matapa sem Amendoim)

Todos sabemos que não se pode fazer uma boa matapa sem amendoim. Da mesma forma, uma equipa sem motivação não passa de um prato de espinafres insípidos, sem sabor e substância. Motivar uma equipa pode, por vezes, ser tão difícil como tentar persuadir a família a sair mais cedo da praia durante as férias. Talvez as pessoas se estejam a queixar da sua avaliação de desempenho ou sintam que o seu trabalho não está a ser reconhecido. Está na altura de temperar as coisas. Cada um dos membros da sua equipa é único. Alguns podem ser inovadores, criativos e resilientes, enquanto outros, por vezes, parecem desmoralizados ou descrentes. Mas é vital identificar e aproveitar os pontos fortes de cada um deles, e realçar as melhores qualidades que cada elemento traz para à equipa. Co-crie uma visão partilhada em que a equipa acredite – não apenas em termos de objectivos, mas também na forma como o seu trabalho melhora as suas vidas, as suas famílias e as suas comunidades. Ajude-os a ver o panorama geral. A motivação não consiste em oferecer mais dinheiro ou regalias infinitas (embora o chá e as natas sejam sempre um sucesso). Trata-se de fazer com que as pessoas sintam que pertencem à empresa e que o que fazem é importante.

Tomemos Elon Musk como exemplo. Mesmo quando os primeiros lançamentos do foguetão SpaceX falharam, Musk comunicou de forma consistente a sua crença na capacidade da sua equipa para ultrapassar os desafios, mesmo quando as probabilidades eram contrárias ao sucesso. A sua comunicação clara e orientada para um objectivo motivou a sua equipa a perseverar através dos obstáculos, à beira do fracasso total, até conseguirem.

Conclusão: A Forma de Liderar com Inteligência Emocional

A liderança requer uma combinação única de (muita) paciência, empatia, sentido de humor e (ampla) adaptabilidade. Quer se trate de gerir emoções em ambientes caóticos, de criar confiança com a sua equipa ou de liderar pelo exemplo, a inteligência emocional é o ingrediente – e já não é uma competência de liderança opcional. A inteligência emocional é como a peça de capulana perfeita (um tipo de sarongue usado principalmente em Moçambique): é colorida, adaptável e torna tudo melhor. No entanto, sem a comunicação adequada para a unir, não passa de tecido. Por isso, da próxima vez, use as boas palavras e assuma a sua verdadeira posição, mas mantenha-se honesto, para transformar a situação de “uh-oh” em “aha!”.